Este fim de semana fizemos uma pequena viagem de reconhecimento ao outro lado. Afinal de contas, vivemos na última cidade dividida da Europa que, por muito que não queiramos fazer a analogia, tem cada vez mais em comum com este louco Mundo em que vivemos.
Para um turista, encontrar o check-point é como descobrir a passagem para a quinta dimensão: caso não se conheça exactamente o sítio onde está a fronteira, não existem indicações, nem nenhum sinal que nos mostre que podemos estar perto. De ambos os lados da cidade, o bairro cortado pela linha verde está semi-abandonado , com marcas de balas nas paredes e arame farpado nas ruelas, onde, ao mesmo tempo, algumas lojas de pequenos comerciantes continuam a sua actividade.
Passado o primeiro check-point , entramos na zona-tampão , onde um espectacular ex-hotel de 5 estrelas serve de aquartelamento aos capacetes azuis. Admito que dá pena ver lençóis nas janelas, à laia de cortinas, e as varandas semeadas com mobília de praia foleira, mas a verdade é que os locais eram capazes de levar a mal se em vez disso se vissem mordomos de luva branca a servir gin tónico ao fim da tarde.
O segundo check-point foi relativamente rápido de se passar. Há que acautelar os passaportes, para que os oficiais do outro lado não os carimbem. Um carimbo de entrada naquela zona impossibilita o regresso ao lado de cá, sem apelo nem agravo.
A outra metade da cidade é outro mundo: os edifícios modernos e espelhados dão lugar a uma arquitectura baseada no betão, parecida com os nossos edifícios dos anos 50. A catedral de Sta Sofia, marco da ortodoxia da região, exibe agora dois enormes minaretes, cumprindo a função de mesquita central há 33 anos.
A maior parte dos transeuntes são homens, que constituem também a esmagadora maioria dos condutores. Também aqui se conduz pela direita, muito embora maior parte dos veículos tenham volante à esquerda.
Minarete da Mesquita do Porto
Passámos as montanhas com destino a um pequeno porto medieval, com contornos italianos, talvez herança da presença veneziana na Ilha.
Ao contrário da Capital, aqui as raparigas passeavam de cabeça descoberta de mãos-dadas aos namorados e algumas das mulheres casadas também andavam sem véu.
No passeio à beira-mar, algumas famílias caminhavam na digestão do almoço, enquanto os homens pescavam à linha com os filhos, num quadro em nada diferente de um passeio domingueiro a Alcochete.
Ruínas do Castelo
Terminámos o dia com um jantar à beira-mar, de costas para o Castelo medieval a ouvir o Almuadem chamar os fiéis para a oração do pôr-do-Sol.
Mezze
E a isto se chama um Domingo perfeito.
Já não era sem tempo!
Fotos deste fim de semana em Kavo Greko (Cabo Grego)para descobrir a profundidade do azul do mediterrâneo.