Quando era pequena, lembro-me de umas fotos que andavam lá por casa, muito antigas, que mostravam uma série de homens na casa dos 20 anos, com ares saudáveis e camisolas brancas de alças, reunidos à volta de uma mesa cheia de petiscos.
Dessas fotos, vim a saber, muitos anos mais tarde, que um dos homens sentado na mesa (o mais bonito deles todos) era o meu avô Luis.
Só no final dos anos 90, quando o meu avô se despediu deste mundo, é que a minha mãe me contou a história por detrás daquelas fotos dos finais dos anos 40.
Eu, embora já conhecesse as fotos desde pequena, nunca tinha reconhecido o avô Luís, que, com uma gadelha de fazer inveja, ostententava uma bandolete a prender a poupa, à laia do que faria, 60 anos mais tarde, o Nuno Gomes.(Eu sempre conheci o meu avô completamente careca).
A explicação era simples: como quase todos os operários da CUF, o meu avô jogava futebol aos Domingos e a bandolete servia para afastar a cabeleira dos olhos.
Ultimamente tenho olhado para o Kiko que, com 18 meses, corre a casa toda com a bola nos pés, cheio de dribles brasileiros, sem nunca perder a bola e sem nunca cair. E pensava eu muito intrigada: " mas a quem foi buscar este puto a arte da bola, quando não existe um macho na família que jogue ?". E foi assim, que hoje me lembrei daquela fotografia da petiscada pós-futebolística tirada num Domingo de há 60 anos.
O sangue é mais espesso do que a água.