
O Papa visitou a Ilha nestes últimos três dias, a Comunidade Católica encontra-se quase toda concentrada no mesmo bairro, colado à linha divisória que separa as forças Governamentais das tropas turcas que invadiram a Ilha em 1974.
Toda esta zona é patrulhada pela UNFICYP que se instalou aqui em 1964 e que, mesmo assim, não conseguiu evitar o inevitável da ocupação, guerra civil e partição que se seguiu, situação que continua até hoje.
Dada a proximidade das áreas da visita papal à zona de delimitação, foi acordado que seriam os capacetes azuis a fazer a segurança, o que é compreensível, visto que as forças de uma parte e de outra não podem aceder à zona em questão.
Acontece que a escolinha do Kiko fica entalada entre duas igrejas católicas a Sul e uma mesquita ao Norte (o que vale é que a escola é laica) e a directora, muito sabiamente decidiu fechar o estabelecimento durante a visita por uma questão de segurança e conforto das crianças. Mesmo assim, a escola encheu-se de capacetes azuis nos dias anteriores à visita, que passaram a escola a pente fino e aterrorizaram o meu miúdo.
Quando o fui buscar na Quarta-feira, ele só dizia "os soldados vão me matar" e eu sem perceber a razão de tanto pânico, até que nos cruzámos com três capacetes azuis, que muito tranquilamente se passeavam de metralhadora às costas e gelado na mão. Lá fui ter com os senhores, para eles dizerem olá ao Kiko e para o puto perceber que eles são "dos bons" soldados. Estive a explicar que os senhores das boinas azuis são muito bonzinhos e não matam ninguém. Só andam de metralhadora ao ombro para meter medo aos maus. E se alguém se porta mal eles dizem logo:"mau, maria...queres levar um estalo?" em vez de disparar a matar.
Enfim, política internacional explicada às criancinhas....
Mas no fim o Kiko ficou fã e agora quando brinca com os seus helicópteros dou por ele a dizer "lá vem o 'cótero dos pacetes azuis!!!Vamos matar os maus!!!" Hoje, quando o fui buscar à escola disse-me que queria ser "chapeau bleu" quando fosse grande, lá estive meia hora a convencê-lo que se dizia "casque bleu" e não chapéu, mas acho que essa parte não lhe entrou muito bem, porque eles aqui andam de boina e não de capacete, de modo que até tem lógica.