Já passei por muitas fases desde que saí de Portugal: a fase em que acompanhava tudo o que se passava no país e que tinha saudades loucas de casa, a fase em que não queria saber de nada e não sentia falta nenhuma, a fase em que queria saber, mas ficava enojada com tanto disparate e a fase do optimismo estúpido em que tudo o que era português era bom.
Ou seja, dentro ou fora, continuo uma portuga típica, com sentimentos esquizofrénicos em relação ao meu país e aos meus conterrâneos.
A minha prima diz-me que o meu maior problema de cabeça é o relacionamento que tenho com Portugal, eu tento explicar-lhe que ela, enquanto italiana, nunca conseguirá perceber a maluquice da portugalidade.
Agora ando numa fase de acompanhar tudo o que se passa, mas a esforçar-me por não fazer juízos de valor. No entanto, isto é demais para mim. Aliás, acho que é demasiado até para 10 milhões aguentarem em colectivo.
Só na última semana, os chorrilhos de asneiras nos telejornais, no parlamento, nos debates, na campanha eleitoral, a piroseira dos Globos d'Ouro e, last but not least, o caso da Alexandra, têm-me feito contorcer de dores na alma.
E depois, isto da internet é tudo muito bonito, especialmente porque é democrático e permite que qualquer imbecil opine em qualquer lado (eu incluída). É alucinante a quantidade de comentários nos sites dos jornais nacionais de grande tiragem que são boçais, ordinários, mal escritos ou simplesmente idiotas.
Este fenómeno não é português, é global, a estupidez humana não é exclusivo nosso, muito embora às vezes pareça que nos doutorámos em parvoíce, com tese em imbecilidade colectiva. Quanto um diz mata, há logo vinte comentários a seguir que dizem esfola e com erros de ortografia e gramática.
Palavra d'honra que às vezes, por muito que me esforce a ler determinados posts ou comentários não consigo perceber o que a pessoa quer dizer, tal não é a algarviada.
No fundo, quem não consegue falar ou escrever em condições também não consegue pensar, e isto não só um problema de educação nacional. Os meus bisavós eram iletrados e falavam bem, com clareza e lógica.
Mas que porra, e eu que tinha prometido a mim mesma não me chatear mais com isto.