Há pessoas que nos marcam de maneiras que levam tempo a ser entendidas. Pessoas cuja presença nas nossas vidas é tão habitual, tão dada como certa, que se tornam uma espécie de mobília antiga herdada da bisavó.
E, pelo contrário, há pessoas que passam como cometas, brilham e ensinam-nos coisas intensamente, como se, no fundo, soubessem que vão desaparecer depressa e deixam um vazio estranho, uma ausência que não se pode medir. Não podemos dizer: "olha alí costumava estar o meu relógio de cuco", porque foi tudo demasiado rápido e demasiado intenso para ser mensurável.
Sabes, comecei finalmente aquela colecção de livros que me aconselhaste (há mais de 20 anos!) e em cada linha que leio a tua presença fica mais real.
Tenho pena que não me tenhas visto assim, crescida. Acreditas que tenho filhos e tudo?
Tenho pena que não ensines o meu filho a nadar, como fizeste comigo, que nunca tenhas visto a tua filha crescida, feliz ao meu lado, as duas com os nossos meninos. Tenho pena que nunca tenhas sido avô. Acima de tudo, sinto a tua falta nas coisas de que falávamos só os dois.
E, ah, sim, é verdade...o meu italiano está uma merda.
Estás a ver a falta que fazes??